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Este texto foi
originalmente publicado
no blog Por Trás do Nome,
para ver em seu site original,
Não poderia deixar de escrever acerca deste nome tremendo, o meu eleito para nome de rapaz, pelo qual sou simplesmente caída de amores. De aspecto robusto, venerável, senhorial e nobre, soa-me aos ouvidos quase como um pequeno milagre! Trata-se, para mim, sem dúvida, de um amor à primeira escuta... Ademais, como se não bastasse, todo o contexto que o envolve, bem como as comoventes histórias de personalidades que o portaram, conferem ao belo nome uma conotação e aura mais do que especiais...
Estêvão é a variante em língua portuguesa do grego Στεφανος (Stephanos), cujo significado é "coroa", símbolo do triunfo na era pré-cristã e posteriormente associada à coroa do martírio daquele que teria sido o primeiro a sofrer por Cristo, por testemunhar a sua fé, durante a Igreja Primitiva – por isto, Santo Estêvão, protomártir, assim tornado entre os anos 31 e 36.
Sabido e consabido como o primeiro mártir da era cristã, tem a sua história contada nos Atos dos Apóstolos, capítulos VI e VII, da Bíblia. Teria sido o primeiro escolhido pelos 12 apóstolos seguidores de Jesus para o exercício do diaconato, o serviço da caridade, assim como se empenhou fortemente – segundo uma mensagem mais radical e rompendo com sectarismos, valores religiosos e institucionais vigentes – na difusão dos ensinamentos do Cristo. Simples e dadivoso, tido por benfeitor dos humildes, Estêvão, ainda nas palavras das Sagradas Escrituras, "operava prodígios e grandes sinais entre o povo".
Conta-se que, tendo feito inimigos empedernidos e perseguidores, incapazes de fazer frente à sua grandeza de Espírito e sabedoria, acabou, sob o jugo das mais variadas acusações, por ser condenado à pena capital de apedrejamento, determinada por autoridades judaicas e pelo povo amotinado e insuflado por um ódio bestial e injusto.
Santo Agostinho qualifica este ícone de convicção, resistência e heroico amor ao próximo – que leva Estêvão até mesmo a orar pelos próprios algozes – como "forte coluna de Deus", que, "quando mantido entre as mãos dos lapidadores como se estivesse entre tenazes, consolidava-se ainda mais, ardendo de fé", "ferido e arremessado, acorrentado e oprimido, morto mas não vencido".
Tipicamente medieval, este prenome, já antes presumivelmente comum entre os gregos da Antiguidade, sem dúvida passa por um fenômeno ou processo de popularização por toda a cristandade, a partir da inspiração na vida do Santo, celebrado no dia 26 de dezembro e precursor em seu sacrifício ao modelo e guia dos cristãos e, portanto, "o primeiro a nascer no Céu". Daí resulta o canto: "Ontem Cristo nasceu na Terra, para que hoje Estêvão nascesse no Céu".
Sabe-se que Estêvão foi não só um nome bastante utilizado entre o papado e presente em certas casas reais europeias – titularizado por 10 papas (ou 9 deles, assim oficialmente considerados pela Igreja) e monarcas da Inglaterra, Sérvia, Hungria e Polônia –, mas também portado por várias notáveis personalidades do passado e do presente, reconhecidas em âmbito mundial: Estêvão de Gaza (século V/VI), gramático bizantino; Estêvão de Bizâncio (século VI), lexicógrafo grego;Estêvão de Alexandria, filósofo, professor e astrônomo bizantino (século VII); Santo Estêvão (Papa Estêvão I), 23º papa, perseguido obstinadamente por Valeriano e Galiano e morto por decapitação; Santo Estêvão de Perm (1340-1396), missionário russo e criador do alfabeto Komi; o reverendo Stephen Hislop (1817-1863), missionário escocês na Índia; Sir Stephen Cave, autor e filósofo britânico;Stephen A. Hayner, presidente estadunidense do Seminário Teológico de Colúmbia; o físico inglês Stephen Hawking, dentre muitos outros.
No que diz respeito à sua popularidade no Brasil, Estêvão parece-me suficientemente invulgar e quase uma lufada de ar fresco para os tempos que correm, ao mesmo tempo em que se trata de um nome simples, muito antigo e tradicional ou perfeitamente conhecido. E, por isto, diria, até relativamente fácil de ser apreciado ou, ao menos, bem entranhado pela generalidade das pessoas. Verifica-se que, nos cartórios do estado mais populoso da federação, São Paulo, a forma – ainda que ortograficamente equivocada – "Estevão" ocupou, em 2014, a 161ª posição, segundo os dados da Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo.
Em Portugal, contou com um único registro em 2011 (ao passo que se verificaram 4 registros para o nome grafado sem o acento circunflexo); 10, em 2012 (e 3 para a grafia não acentuada); 12, em 2013 (e 6 para o nome na ausência do circunflexo); 13, em 2014 (e 3 para a mencionada forma, em desconformidade com a gramática normativa da língua). O mais provável é que a novela portuguesa Rosa Fogo, transmitida pela SIC entre 2011 e 2012 e que trouxe o protagonista interpretado pelo ator Ângelo Rodrigues, tenha muito contribuído para o crescente interesse.
Alguns críticos poderão argumentar, como se de um atributo negativo se tratasse, no sentido de que Estêvão seria o tipicamente chamado "nome de velho". Contudo, primeiramente, não me parece sequer que tal nome esteja saturado entre as pessoas de idade avançada que vivem os tempos atuais. E, ora, um "nome de velho" (adoro-os!) pode nada mais ser do que um nome de uso de longa data! Nome este que, justamente pela sua antiguidade, emana história, força e tradição... Como uma boa e velha árvore, de forte solo e profundas raízes. Parece-me, certamente, o caso de Estêvão!
Querido, terno, enérgico, cheio de personalidade e mesmo principesco em um pequeno menino, cresce muito bem em um respeitável e resoluto senhor! Daí também se me afigurar um nome imbuído de credibilidade, como um bom cartão de visitas, para o seu portador em quaisquer fases da vida.
Em que pese eventual dificuldade na articulação de seu som nasal por falantes fora da lusofonia, é possível que Estêvão seja identificável internacionalmente com alguma facilidade, haja vista a alta ou considerável popularidade de algumas de suas variantes em seus respectivos países de origem.
São muitas as variações possíveis ao nome pelo mundo afora; citemo-las algumas, sem exclusão de várias outras:
Stephen, Steven (inglês e neerlandês); Ste, Steph, Steve, Stevie (formas diminutivas, em inglês); Esteban, Estavan (espanhol); Estebe, Eztebe (basco);Estevo (galego); Stefano (italiano); Stephanos (grego antigo); Stepan (armênio e russo); Étienne, Stéphane (francês); Estienne (francês medieval); Stefan(romeno, neerlandês, servo, dinamarquês, sueco e alemão), Stephan (alemão e neerlandês); Štefan (eslovaco); Steffan (galês e dinamarquês); Szczepan(polonês); Fane (romeno); Stevan, Stevo, Stjepan (servo); Steffen (dinamarquês e neerlandês); Stef, Stefanus (neerlandês); Tipene (maori) etc.
Destaque-se que é também uma variante portuguesa a forma Estéfano, ao meu ver interessante, mas muito menos apelativa e desprovida da integralidade da beleza, graça e força impetuosa e sóbria de Estêvão.
Aos meus olhos (e ouvidos) suspeitos, trata-se, portanto, de um nome perfeito: Es-tê-vão! Circunspecto, vigoroso e ilustre. Repito-o, mentalmente e em bom tom, tantas vezes, em puro deleite! Sonoramente intenso e, pela carga de sua história, inspirador em vários aspectos no que se pode desejar a um filho – ou pessoa a quem se nomeia –, a escolha não me parece que poderia ser mais adequada para parte da construção da moldura de uma identidade e vida felizes! Recomendo-o vivamente!
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